O descontrole financeiro de atletas profissionais

Um dos temas mais importantes e discutidos atualmente na educação em nosso país é o planejamento financeiro. A cultura do imediatismo, cada vez mais presente na sociedade e nas futuras gerações, é um dos fatores que geram a desorganização financeira; e na carreira de um jogador de futebol não seria diferente. Esse nicho da população é alvo de admiração justamente por suas finanças: seus salários exorbitantes proporcionam  determinadas oportunidades muito almejadas, como uma vida de luxo e status.

O ganhador do Nobel de Economia de 2002 com estudos sobre finanças comportamentais, Daniel Kahneman, afirma que grande parte dos indivíduos deixa as decisões econômicas serem demasiadamente influenciadas pelo emocional. Um atleta profissional representa esta teoria, evidenciada em casos explícitos: a sensação de euforia provocada pelo sucesso pode ser danosa se levar à cobiça e à negligência da racionalidade.  Neste momento de suas carreiras, a percepção de poder, mal administrada, é exatamente o que pode fazer com que seus futuros financeiros estejam em risco. O sucesso não pode subir à cabeça de um atleta quando se trata de planejar o futuro e o futuro de suas famílias.

Ontem ricos, hoje falidos.

Um estudo da revista americana Sports Illustrated estimou em 2009 que 78% dos jogadores da NFL enfrentavam graves problemas financeiros em até dois anos após a aposentadoria, e que 60% dos atletas da NBA quebram financeiramente em até cinco anos da despedida das quadras. Felizmente isso vem mudando. Atualmente, aproximadamente 25% das pessoas nos Estados Unidos têm um consultor financeiro particular, cerca de 75% têm algum planejamento financeiro para suas famílias, e tais números só crescem.

A oferta de serviços de planejamento e gestão financeira especializada em atletas ainda é baixa no Brasil, mas vem crescendo exponencialmente. Com o amadurecimento deste mercado, atletas e profissionais da área esportiva terão ainda mais possibilidades de planejarem e garantirem seu futuro financeiro, tendo a segurança da preservação de seu patrimônio,  podendo dispender foco e concentração exclusivamente em desempenhar suas atividades e conquistar seus objetivos.

Alto poder aquisitivo é sinônimo de organização financeira e acumulação de riqueza?

Ao contrário do diz o senso comum, o descontrole financeiro não tem relação com classe social ou escolaridade, mas com comportamento; é comprovado que pessoas indisciplinadas no dia a dia têm um menor controle de suas contas bancárias. Segundo pesquisa realizada pelo SPC Brasil, 80% dos brasileiros não têm controle total das despesas, ou seja, a grande maioria da população brasileira sequer planeja seus gastos, acumulando dívidas em cartões de crédito e dilapidando seus respectivos salários em compras impulsivas e desregradas. A sensação de possuir determinado poder aquisitivo – em grande parte por conta da facilidade de acesso ao crédito – acaba por aumentar a frequência de compras repentinas e/ou de grande valor como também à inadimplência. Com base nesses dados, pode-se deixar de lado a opinião estereotipada de acreditar que o caos financeiro na vida de atletas profissionais acontece por sua origem humilde, de infância sofrida com educação escassa. É claro que o conhecimento muito influencia, porém existem outros fatores cruciais para a saúde financeira desequilibrar-se.

A dificuldade de conciliar compromissos pessoais e profissionais acaba contribuindo com a displicência das contas, principalmente quando tratamos de jogadores profissionais, que precisam sacrificar fins de semana e feriados para se dedicarem aos treinos, concentrações e cumprirem tabela nos grandes campeonatos. Quando há dias de folga, é compreensível que não se interessem em analisar aspectos burocráticos e contábeis de suas respectivas vidas, e queiram desfrutar momentos de lazer com família e amigos. A falta de tempo pode ser um motivo, mas também uma desculpa para não romper com o comodismo instalado na rotina pessoal e familiar, visto que atualmente os aplicativos digitais possibilitam o controle de gastos a qualquer hora e lugar. A viralização de informações, dicas e sugestões financeiras também são encontradas de forma didática na internet, mas a falta de interesse e a cultura instantânea são contrapontos que atingem até mesmo os jogadores que ganham fortunas.

Talvez esta ingenuidade financeira de alguns possa ser explicada pelo alto e repentino crescimento de seus rendimentos. Ao se depararem com cifras de muitos dígitos depositados em suas contas bancárias mensalmente, podem não conseguir mensurar a importância do planejamento de seus patrimônios, especialmente quando tais atletas tiveram uma infância predominantemente privada de confortos e bens materiais. A atitude, a disciplina e o senso de responsabilidade são primordiais para o enriquecimento de um atleta a longo prazo.

Há dezenas de exemplos de sucesso e fracasso financeiro no meio futebolístico, e há apenas um elemento que diferencia os cases positivos dos negativos: atitude (e a noção de longo prazo também). É preciso atitude para mudar, interessar-se, organizar-se e até mesmo para contratar um profissional para auxiliá-lo. É preciso atitude para desvencilhar-se de achismos e ter uma estimativa real das receitas e despesas. É preciso atitude para pensar no futuro e planejar os rendimentos de investimentos para uma aposentadoria tranquila. Então, que atitude tomar hoje para mudar esse cenário?

Conheça suas finanças

É fundamental ter o controle do essencial, uma planilha que compare as receitas (ganhos) e as despesas (gastos), com o objetivo de identificar e quantificar os efeitos do descontrole. Essa simples atitude presente mudará as atitudes futuras. Em toda primeira reunião que faço com um atleta, questiono a respeito do  quanto ele acha que ganha e o quanto ele acha que gasta mensalmente  e anoto. Após algumas semanas, após  um diagnóstico real de sua situação financeira, faço um  comparativo e a diferença entre o estimado e o real é impressionante, tanto na receita quanto  na despesa. é um passo simples, mas determinante no sucesso do controle financeiro.

Ao contrário do que se pensa, ser um atleta profissional de futebol é uma profissão de risco. Basta uma entrada mais forte ou uma disputa de bola mal dominada para colocar o atleta fora de jogo, prejudicando não só a sua carreira como a sua saúde financeira.

Meu conselho a esse público é simples: planeje-se para eventualidades. Você não vai querer fazer parte dos 50% de jogadores que encerram a carreira na falência, certo?¹. O mercado de futebol é instável, atraso de salários são cada vez mais comuns. Jogadores de ponta são encostados pelos clubes e até mesmo o seu corpo pode precisar de descanso antes do tempo. Por conta disso, restabeleça o controle e eduque-se financeiramente. O seu futuro agradece.

¹Fonte: Federação Internacional de Jogadores Profissionais.

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